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ENTREVISTA COM O PADRE ILDO DE JESUS

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À conversa com… Pe. Ildo Aníbal de Jesus Silva

Na zona pastoral de Tabuaço, desde há 47 anos a esta parte, encontramos o Pe. Ildo como pároco de Chavães e de Arcos. Membro da Congregação dos Missionários do espírito Santo, ordenado presbítero a 30 de Setembro de 1951, em Viana do Castelo, passou por terras de Angola antes de se fixar entre nós. Esta breve conversa, para lá de nos dar a conhecer o seu percurso, é também uma singela homenagem ao decano dos nossos párocos.

O Padre IIdo é natural da nossa Diocese, da paróquia de Cedovim, Vila Nova de Foz Côa, mas a sua formação e ordenação aconteceram na Congregação das Missionárias do Espírito Santo. Como foi esse percurso?

Sou um dos onze filhos de Adelino A. Silva e de Felisbela Ramos. Ainda ao colo do primeiro, o Antoninho, subi ao campanário para aprender a tocar às Almas. Ao cuidado do segundo, a Violinda, aprendi a ajudar à Missa em latim. Recordo o elogio do sr. P.e Guerra na descida do cemitério, após um funeral.

Estando a ajudar o quarto, o Zé, que trabalhava numa obra de serralharia – profissão do pai – lembrei-me de dizer que queria ir para a escola – «vai já dizer ao pai que te compre o livro». E quase no termo do ano escolar, de facto, levou-me ao sr. Prof. Patrício, que me endossou aos da quarta classe.

Tive um interregno de Escola durante mais de um ano, porque ficámos sem professor.

A Violinda, por tudo e por nada, inculcava-me o Seminário. Em 1937 ingressei na Congregação do Espírito Santo, na Guarda-Gare. Findo o ano, acompanhei um colega de Vale de Ladrões – hoje Valflor – que me apresentou à s.ra D. Carminho, na Meda. Só me deixou sair quando a Violinda me foi buscar num macho. Cotejando as notas do fim do ano, recebi os parabéns do rev. P.e Marques. Mas os livros que eram da Congregação, tiveram descanso.

No termo das férias, recebi uma comunicação da Guarda-Gare: «como deve saber pela sua mãe, só pode entrar em Godim, depois das ordens do oftalmologista, Dr. Pôncio. Ao fim de um ano, sem medicação alguma, recebi carta branca. Já as aulas tinham começado há uma semana, quando entrei em Godim.

Embora sem qualquer negativa, no Natal mandaram-me repetir o primeiro ano na Silva – Barcelos…. Sem me aplicar demasiado, tive sempre notas positivas, salvo numa Páscoa em que a puberdade explodiu.

Sabemos que, enquanto missionário, esteve em Angola. O que guarda dessa experiência?

Durante as férias – só de 16 de Julho a Outubro -, era casa, igreja e campo. Feita a consagração ao apostolado, como era normal, fui enviado para Angola – Santo António do Zaire. Passei uns dias em Luanda, à espera de guia de marcha. Com o Superior da Missão, P.e Marshal, belga, estavam alunos que me estudavam e a quem eu correspondia. Na Missão havia mais confrades: P.e Bexeling, holandês, e Alfredo, português.

Procurava aprender o dialeto kisslang para o ministério, principalmente entre as mulheres. E mesmo sem o saber, saí em viagens de oito ou quinze dias, levado por um interno que me ajudava nas necessidades do jipe e como intérprete, quando era preciso. Não deparei com grandes dificuldades de qualquer género.

Passado um ano e meio, fui transferido para Cabinda, onde tinha dirigido um retiro aos irmãos espiritanos. Foi uma promoção no sentido humano: gente mais elevada.

Cada padre tinha o seu sector, que visitava quando podia e precisava.

À tarde, entrava na povoação, habitualmente de jipe, acompanhado de dois internos encarregados da mala da Missa, da tarimba e da cozinha. À noite, havia a oração do terço, palestra e confissões; de manhã, Missa e Baptismos.

Para a higiene, um garrafão empunhado, sobre a cabeça… Quando havia água corrente perto, era festa! Quando não podia fazer a barba de manhã, fazia-a à tarde e, então, era para dois dias.

Um dia, apareceu alguém na Missão a solicitar o missionário. O Superior diz: «caritas non obligat cum tanto incomodo», não havia meio de transporte operacional. O sector não era meu. Mas, autorizado, peguei na moto e tentei… Completei o percurso a pé, mas atendi o doente. E regressei à Missão de bicicleta…

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Como se dá o regresso à Diocese de Lamego?

Ao fim de quatro, cinco, seis anos, havia a graciosa (Férias prolongadas na Metrópole). Ao sair, davam-nos mil angolares. À chegada a Lisboa, 2.000$00 para os cinco ou seis meses. E devia chegar para as viagens até á Família e casas da Congregação.

Tive a felicidade de passar um mês de recolecção em Chevilly, nos arredores de Paris, com confrades de Portugal e vários outros Países, em experiências semelhantes ou não em várias Missões.

Vinha a férias no Natal para matar a filária e ganhar os benefícios do frio, em relação ao calor húmido de Cabinda.

Tramaram-me! Nas vésperas do Natal de 1969, cinco irmãos solteiros e a mãe, ancorados no sr. Cónego Cardoso, mexeram a Congregação do Espírito Santo e a Diocese para eu ficar por aqui! Dizia o sr. Cónego que já tinha dado muito às Missões…

A família, atemorizada pelas notícias que ouvia da política de Angola, receava pela minha vida… Aliás, cheio de medo, nunca o confessei. Por exemplo: o senhor que foi o General Soares Carneiro, pediu na Missão a minha ida ao Stó (Cabinda) a sondar a política; eu contei ao senhor Joie, da Pide; ele disse-me que ele não iria… E eu fui!

O Provincial da Congregação do Espírito Santo aceitou, e o Senhor Bispo, D. João da Silva Campos Neves, deu-me a escolher: Panchorra ou Tabuaço. Preferiram Tabuaço e cá estou desde 13.9.90. Ainda substituí o Pároco de Barcos uns anos; acumulei Nagosa, mas sem nomeação oficial da Diocese.

Ao longo dos últimos anos tem sido o pároco de Chavães. Como foi a adaptação à vida paroquial?

Os missionários não auferem ordenado, nem um tostão. Ouvindo um chefe de família… preocupei-me deveras… Arranjaram-me uma «joaninha» de quinze contos, único carro em Chavães.

Graças a Deus, mesmo com a família acrescida de três sobrinhos despachados de Luanda por meu irmão (o 11.º) Idálio, sempre encontrámos de comer e nunca usámos o crédito. Quase todas as semanas pregava um sermão.

A residência metia água, a igreja precisava de telhado novo, capela–mor aberta, paredes argamassadas, altares dourados… Tudo se foi realizando. Ufano, quando padres, freiras, anónimos, desconhecidos, entravam e louvavam – igreja tão bonita – partilhava o elogio no final da Missa dominical.

Chegámos a ter setenta comunhões, solenes. Lindo! Mas a emigração reduziu a paróquia para menos de metade. E a frequência dos habituais é muito fraca. Fins de julho e princípios de agosto fazem-nos recordar esses tempos.

A minha família participou e participa activamente na acção religiosa e de obras acima da média. Mas a Câmara Municipal, economicamente, foi sempre muito generosa.

Para terminar, que palavra gostaria de deixar aos nossos párocos, nomeadamente a quem agora começa a missão? 

Mas, quem sou eu para dar sugestões aos padres, se o relato destes quarenta e cinco anos é uma amostra tão chocha? Julgava a obediência e a oração os pilares do Pároco!…

in Voz de Lamego, ano 86/23, n.º 4362, 10 de maio de 2016

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