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D. Alberto Cosme do Amaral . Centenário do seu nascimento . 2

AlbertoCAmaral-149x300O Seminário era “a menina dos seus olhos”, e como ele disse ao jornalista, “está sempre presentes no meu coração e na minha oração, polariza todos os meus amores num só amor. Dali brota o caudal de graça que chega a todos os recantos humanos e geográficos da diocese. Os dias que mediante a ordenação sacerdotal, gero da plenitude do meu sacerdócio outros sacerdotes, compensam-me superabundantemente de todas as fadigas, canseiras e dores. Pelo pouco que aí fica dito, pode adivinhar que me sinto o homem mais feliz do mundo, e, no silêncio do meu coração, toda a minha vida é um cântico”( in Luz na Montanha, Dez.1989).

Nessa mesma entrevista posta a pergunta:

 –  “Quais as principais condições que um rapaz deve possuir para reconhecer a sua vocação ao sacerdócio?”.

– Responde: – “1º É preciso que o rapaz se encontre consigo próprio. Num ambiente de solicitações de toda a ordem não é fácil. É preciso provocar nele esta fome de encontro com a sua verdade íntima…. Com a sua identidade de discípulo do Senhor.

2º- Depois interrogar-se, na intimidade com o Senhor: -Que quereis que eu faça? E pedir com humildade e sinceridade: Senhor mostra-me a Tua vontade; Senhor faz que eu veja.

3º- Procurar um guia espiritual, um sacerdote enamorado do Senhor, um sacerdote fiel e feliz no seu ministério que o ajude no discernimento.

4º- Ter uma atitude de disponibilidade como a de Maria, como a dos Apóstolos: deixar tudo e seguir o Senhor.

5º- E uma abertura àqueles que o Senhor colocou no seu caminho para o ajudarem a discernir a vocação.

Reconhecida esta possível idoneidade humana e sobrenatural, só uma atitude é lógica: -“Eis que eu venho, Senhor, porque me chamaste” (cfr. L. na M., Dez. 1989).

Ele era um despertador do gérmen vocacional. Contou nuns votos solenes duma religiosa que, ainda seminarista ao cruzar-se com um rapazinho lhe atirou sem rodeios: -“Olha lá, Toninho, tu não queres ir também para o Seminário? Resposta pronta: -“Não, senhor P. Alberto, porque eu sou muito maroto”. E concluiu D. Alberto: – “Pois este rapazinho maroto veio a ser Padre” e, olhando para a sua direita, confidenciou – “está aqui ao meu lado”. Era o Cónego Clara Ângelo. Comigo foi igual. Ele substituíra, na Missa dominical, o senhor Abade e, como a igreja velhinha era pequena, as crianças iam para junto do Altar. O meu pai para se certificar da minha atenção, interrogava-me sobre a homilia. Estava nesse interrogatório quando ele passa e ouvindo, parou até final. Depois pede licença para entrar, elogia a pedagogia paterna, passa a mão pelos meus cabelitos e diz: -“Tu não queres ser padre?… Hás-de ser padre!..” e fixando o meu pai, recomenda: “continua assim com os filhos que vais bem”.

Se, como aconselhou Benjamin Franklin a um comerciante – “Time is money”, dito que os americanos tornaram proverbial, para o D. Alberto, “o tempo é eternidade, é santidade” por isso não se deve desperdiçar. Partilhei com ele, nas férias do seminário, o seu plano de vida diário. Às oito abria-me o escritório e rezávamos Laudes seguidas de meia hora de meditação; tomávamos o pequeno -almoço com um pouco de conversa e estudávamos. “Um padre dizia-me ele, deve estudar, todos os dias, duas horas ou mais horas. Não podemos ser padres de compêndio, temos de estar atualizados, devemos escolher bons livros. Devemos tirar apontamentos”. Que grande ficheiro de apontamentos ele tinha!… (Ainda hoje, influenciado por ele, estudo, diariamente, duas ou três horas). Depois do estudo, visita ao Santíssimo seguida de exame particular e a manhã estava aproveitada. De tarde era mais ou menos igual com uma caminhada, a leitura de cinco minutos do Evangelho, o rosário, a celebração da santa Missa, etc.

O senhor D. Alberto incarnou a mística e a espiritualidade do Opus Dei. Foi o primeiro padre português a integrar a Sociedade Sacerdotal de Santa Cruz. Conheceu e conviveu, muitas vezes, com Monsenhor Escrivá de Balaguer, a quem, hoje, os seus seguidores preferem chamar de São José Maria. O próprio D. Alberto escreveu: -“Muito me ajudou o Opus Dei a reconhecer que o amor ao Bispo, concretizado na obediência pronta e alegre, incondicional, uma obediência ativa, de colaboração, sine murmuratione, era ponto fundamental da minha santidade de sacerdote diocesano” (in “Opus Dei em Portugal – 50 testemunhos”, 2002).

Apesar dos esforços e, creio, de alguma oração, não conseguiu – dizia que eu tinha ideias preconcebidas – integrar-me no Opus Dei. Concluiu com certa desilusão: -“Ó Zé, tu não tens vocação para a obediência”. Ao que eu rematei, provocando-lhe um largo sorriso: -“Tem razão. Já me custa obedecer a um superior quanto mais a dois e pior, um espanhol”. Passados dois ou três anos, fui visitado por dois ilustres Opusdeianos a oferecerem-me uma bolsa de estudos, em Pamplona, na área que eu escolhesse. Como respondesse negativamente, pediram a intercessão do meu pai que virou o bico ao prego:

– “ Ó filho, ninguém dá alguma coisa que não queira o troco”. Mas, apesar disso, o senhor D. Alberto continuou sempre meu amigo, visitava-me e telefonava-me como se fosse da Obra. Um santo varão digno da nossa memória. (Continuaremos).

Pe. Justino Lopes, in Voz de Lamego, ano 86/22, n.º 4360, 26 de abril de 2016

D. Alberto Cosme do Amaral . Centenário do seu nascimento . 1

D_Alberto_e_JPII_2_resizedFilho de Manuel Cosme do Amaral e de Rosa Pereira Ramos nasceu, na freguesia do Touro, a 12 de Outubro de 1916. Da casa paterna à velha Igreja Paroquial distanciava a ponte que atravessa o rio. Foi crescendo embalado pelo canto da liturgia e das horas devocionais que lhes entravam pela porta e janelas da casa. A vocação sacerdotal foi nascendo e crescendo neste ambiente cristão, amparada pelas rezas e vivência cristã dos seus tios Lautérios frequentadores e zeladores da Igreja. Por isso quando um jornalista lhe perguntou “como nasceu a sua vocação para ser padre”, respondeu:

– “Não sei como nasceu. Pertence à ordem do mistério. Tenho a certeza que a iniciativa foi de Deus. Que eu me lembre nunca desejei ser outra coisa. Ninguém me sugeriu, fosse o que fosse. Esta ânsia de ser padre nasceu comigo. Eu sei que a iniciativa é sempre de Deus, que, normalmente se serve de intermediários. Comigo não foi assim. Chamou-me diretamente. (…)”.

Depois fala da sua família humilde em bens e cultura e continua:

– ”Eu quis ser padre antes de saber rezar. (…). Quando disse em casa que queria ser padre, mandaram-me dizer isso ao senhor Abade. Eu nem sabia como fazer e dizer. Ensinaram-me. No fim da Missa, fui à sacristia e disse-lhe: – Bote-me a bença, senhor Abade, eu quero ser padre! Ele sorrindo, põe-me a sua mão sobre a cabecita e diz: Pois sim, meu menino, pois sim, quando fores grande, quando fores grande. (…). Depois, sim, vieram os intermediários. Foram tantos e tão dedicados os que me ajudaram a subir a montanha da transfiguração”.

Em 1929 entrou no seminário de Lamego onde brilhou como aluno exemplar no comportamento e no saber. Foi ordenado sacerdote a 13 de Agosto de 1939 e nomeado, em seguida, pároco das paróquias da Horta, Numão e Custoias, no arciprestado de Foz Coa.  Eram tempos difíceis. O jejum eucarístico era desde a meia-noite, o trajeto para as paróquias era a pé, não havia estradas nem transportes e a última Missa terminava já depois do meio- dia. Ainda tentou que alguém confecionasse o pequeno-almoço mas sem resultado – tempos de guerra e de fome.

Em 1943 foi nomeado diretor espiritual do seminário de Resende passando, pouco depois, para o de Lamego. Em 1947 frequentou um Curso de Direção Espiritual e de Acética e Mística no seminário de São Sulpício e Sociologia no Instituto de Cultura Católica em Paris.

Orador fluente e apostólico tanto nas grandes catedrais como nas capelinhas recônditas das aldeias. Cerimoniário da mitra e cónego da Sé, diretor da Obra das Vocações e Seminários (O.V.S.) com o seu jornalzinho, “Servindo a Messe” cujas páginas enchia de doutrina.

Mas ‘a pupila dos seus olhos’ eram os seminaristas e os padres. Queixou-se ao Bispo Diocesano, D. João Campos Neves, o abandono em que deixavam os párocos: -“Tanto cuidado a ampará-los, no Seminário, e, depois, mandámo-los para as paróquias onde os abandonamos ‘como ovelhas para o meio dos lobos”. O Bispo concordou mas andava tão preocupado com a construção do Seminário que afirmou nada poder fazer. Não desistiu, arranjou dinheiro, comprou um Citroen dois cavalos – o célebre ‘pincha’– mais tarde, um Volkswagen – o carocha –  e, todas as semanas de domingo a quinta ao almoço, atendia os seminaristas, depois, partia por essas terras de Cristo a visitar, mensalmente, os sacerdotes e suas irmãs. Muitas vezes intersetavam-no a perguntar-lhe se era o fiscal do bispo para acusarem o padre. Mas passemos-lhe a palavra:

-“ (…) metade da semana passava metido em casa a cuidar da formação dos seminaristas, escondido e silencioso. Vivia para eles dia e noite; a qualquer hora, podiam bater á porta. (…). A outra metade da semana passava-a fora do seminário, em visita aos sacerdotes espalhados pelo imenso território da Diocese. Subia montanhas de 900 metros de altitude e descia a vales fundos, muito fundos. O Douro de margens alcantiladas! Cantava, rezava, pregava, ouvia confidências, absolvia, distribuía a Sagrada Comunhão. Santos Mártires, sacerdotes abandonados, espalhados pelas serranias sem fim. Quantas lições, recebia desses colegas! Recebia muito mais do que dava. Mas era feliz”.  (Continua).

Pe. Justino Lopes, in Voz de Lamego, ano 86/22, n.º 4359, 19 de abril de 2016

Categorias:Sacerdotes, Testemunho, Vida

AMAR . HONRAR | Editorial Voz de Lamego | 26 de abril de 2016

Mãe

Em pleno Jubileu da Misericórdia, diferentes iniciativas e celebrações, que visualizam o empenho das comunidades paroquiais, neste caso na nossa mui e nobre Diocese de Lamego. A edição desta semana abre com a Peregrinação da Zona Pastoral de Cinfães ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima. No interior do Jornal, destaque para a Visita Pastoral de D. António Couto às paróquias da Cunha e de Arnas. De referir também, no âmbito do Jubileu da Misericórdia, a reflexão à volta das obras de misericórdia, nesta semana, “Dar bom conselho”.

No Editorial desta semana, o Pe. Joaquim Dionísio, destaca o Dia da Mãe, no próximo domingo, 1 de maio, realçando a missão da Mãe, em mais uma oportunidade de gratidão:

AMAR . HONRAR

No próximo domingo celebramos o Dia das Mães, continuando a comemoração nascida no início do século passado. Entre nós, e depois do 8 de dezembro, cumpre-se agora no primeiro domingo de maio.

Mas, deve dizer-se, este dia só será único para os que andam distraídos, pois quem vive atenta e conscientemente a vida e as suas relações humanas aproveita cada dia para mostrar os sentimentos que o animam.

Certamente que o dia merece ser devidamente assinalado e alegremente vivido, mas tristes das mães que só vêem reconhecido o seu amor nesta data e infelizes dos filhos que só aparecem neste dia.

A propósito, na recente Exortação sobre a família, o Papa Francisco escreve que “não faz bem a ninguém perder a consciência de ser filho” (AL 188), defendendo que “o vínculo virtuoso entre as gerações é garantia de futuro e de uma história verdadeiramente humana”. E conclui: “Uma sociedade de filhos que não honrem os pais é uma sociedade sem honra. É uma sociedade destinada a encher-se de jovens áridos e ávidos” (AL 189). Honremos, pois, todas as mães e não apenas neste dia!

Numa época em que a mobilidade humana impõe distâncias, em que o espírito competitivo afasta os menos ágeis e autónomos, em que o ideal de beleza esconde as rugas e os passos mais lentos, em que as relações virtuais substituem gestos de efectiva proximidade, em que o relógio parece roubar o tempo mais do que marcá-lo… importa não desperdiçar oportunidades para amar, honrar e agradecer.

A todas as mães que não cessam de amar e acompanhar o ritmo e o rumo dos seus filhos, amadas ou esquecidas, saudáveis ou fragilizadas pela doença, reconhecidas no seu esforço ou esquecidas na sua doação, activas ou já sem forças para continuar, presentes ou discretamente silenciosas… Bem hajam!

in Voz de Lamego, ano 86/22, n.º 4360, 26 de abril de 2016