ACOLHER E DISCERNIR | Editorial Voz de Lamego | 19 de abril de 2016
A Viagem do Papa Francisco à Ilha de Lesbos, na Grécia, a um campo de Refugiados, abre como destaque a Voz de Lamego desta semana. Uma viagem breve, mas com uma marca provocatória para todos, a começar pelas autoridades, mas também para as nossas comunidades cristãs. No Avião Papal, a acompanhar o regresso de Francisco ao Vaticano, três famílias de refugiadas, para refazerem as suas vidas em Itália. Não foi uma escolha aleatória, mas correspondem a famílias que tinham os papéis em ordem.
No Editorial desta semana, o Pe. Joaquim Dionísio, Diretor da Voz de Lamego, prepara-nos para ler a Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre a Família, A Alegria do Amor.
ACOLHER E DISCERNIR
Contrariando as expectativas jornalísticas de alguns e o exagerado temor de outros, a recente Exortação pós-sinodal não apresenta qualquer mudança doutrinal. Mais do que preocupar-se com normas, regras ou interdições, o Papa convida as famílias a viverem de maneira evangélica.
O texto, que quer promover a família na Igreja e na sociedade através do diálogo e da acção, está apresentado em 325 parágrafos divididos por nove capítulos e é fruto de um sínodo vivido em dois momentos (sessão extraordinária em 2014 e ordinária em 2015).
Acolhendo e citando as proposições sinodais, Francisco consagra vários capítulos a recordar a doutrina da Igreja católica, para quem a família é uma experiência humana e humanizante que importa acolher, acompanhar e promover. Nesse sentido, o Sumo Pontífice apela a um olhar positivo sobre as famílias, convidando todos a imitarem a atitude de acolhimento protagonizada por Cristo, o modelo a seguir. Porque, mesmo quando algum baptizado não vive em conformidade com a doutrina, continua a pertencer à Igreja.
Defendendo a unidade de doutrina e da práxis, mas lembrando a imagem do poliedro (figura com muitas faces planas), fica claro que o Papa não quer definir, a partir de Roma, todos as consequências da fé cristã, deixando às Igrejas locais a busca de soluções mais inculturadas e atentas.
Assim, a originalidade deste texto está na ênfase dada ao discernimento espiritual, destacando a importância da formação da consciência e o discernir de elementos positivos em situações que podem parecer imperfeitas ou inacabadas. A pastoral não é nem uma engenharia de soluções acabadas nem a cega aplicação de normas.
A Igreja é convidada a reencontrar os que estão fora (periferias), no seu ambiente familiar, e a acompanhá-los no caminho, com a Palavra de Deus e a oração, promovendo a progressão na fidelidade a Cristo.
in Voz de Lamego, ano 86/22, n.º 4359, 19 de abril de 2016