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Solenidade de São Sebastião | Homilia de D. António Couto
SOLENIDADE DE SÃO SEBASTIÃO
- A nossa Igreja de Lamego está hoje em festa, porque celebra jubilosamente o seu Padroeiro principal, São Sebastião, e dele recebe a necessária proteção e a suprema lição da dádiva da vida. Jesus Cristo foi a sua verdadeira razão de viver… e de morrer. A sua LUZ foi intensa, o seu TESTEMUNHO imenso e descarado no meio da cidade ensonada e coroada pelos ídolos. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte, não se pode apagar o horizonte, não se acende uma LUZ para a colocar debaixo da ponte. De qualquer lugar se via, em qualquer lugar se via, que Sebastião trazia Cristo a arder no coração. Não o escondia. Por isso, o imperador romano, Diocleciano, quis fazer desaparecer este soldado de Cristo. Por isso, o fez morrer na grande perseguição desencadeada nos primeiros anos do século IV. Mas já o bom perfume do fiel soldado de Cristo se tinha espalhado pelo mundo inteiro, e frutificava em novas comunidades, de acordo com o célebre aforismo de Tertuliano: «Sangue de mártires, semente de cristãos». E frutificava cada vez mais, sobretudo em circunstâncias difíceis, quando a fome, a peste e a guerra assolavam as populações.
- Acorda, Lamego, não tenhas medo! Coragem! Tem confiança! Ele chama-te! E diz-te, na página de hoje do Evangelho (Mateus 10,28-33), que vales mais do que muitos passarinhos. Do menor para o maior: se Deus, nosso Pai, cuida da vida dos passarinhos, que não trabalham nem ceifam, com quanto mais carinho cuidará de nós! Como a vida do Mártir São Sebastião, também a nossa está segura nas mãos de Deus (cf. Sabedoria 3,1), tatuada nas palmas das mãos de Deus (cf. Isaías 49,16). Como a dos sete jovens irmãos Macabeus e a do velhinho Eleazar, de 90 anos, como nos mostra hoje a história edificante e exemplar do Segundo Livro dos Macabeus, Capítulos 6 e 7. Portanto, levanta-te, Lamego, Igreja amada, acariciada, não abandonada (cf. Isaías 62).
- E a lição da Primeira Carta de São Pedro (3,14-17), também hoje escutada, ensina-nos bem: «Estai sempre prontos, preparados, para dar, a quem vos pedir, a razão da esperança que há em vós» (1 Pedro 3,15. Dá-se a razão, como se dá o pão. Sem argumentação. Mas com a mão e o coração. Não é em vão que a lição da Carta de São Pedro diz «razão» com o termo grego lógos. Está bom de ver que o lógos bíblico não é nada nosso, não são os nossos raciocínios teóricos e abstratos, fáceis, que não doem. A razão que somos chamados a dar não é um objeto do nosso pensamento, mas uma PESSOA a nós dada: Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido de Maria, «feito Homem como nós e que veio habitar no meio de nós» (João 1,14). É Ele a razão, o Lógos, «pelo qual tudo foi feito, e sem Ele nada foi feito» (João 1,3). Estar prontos, preparados, para dar a razão, o lógos, da nossa esperança, é estar prontos a dar a este mundo Jesus Cristo!
- De resto, amados irmãos e irmãs, é de Jesus Cristo que nós precisamos e de que este mundo precisa. É Jesus Cristo que as pessoas nos pedem. Foi Jesus Cristo que São Sebastião deu ao mundo no seu tempo. É Jesus Cristo que São Sebastião, Padroeiro da nossa Diocese, nos entrega hoje. Não como um valor a conservar e guardar com todas as cautelas em alguma gaveta ou cofre-forte. Mas para nós o entregarmos generosamente aos nossos irmãos. Quando celebramos um mártir, não sobra lugar para o acidental. É Jesus Cristo que um mártir tem nos olhos e no coração. É esta herança do essencial, sem estratégias ou malabarismos, que recebemos do nosso Padroeiro.
- Jovem soldado, jovem mártir, São Sebastião, ensina a tua Igreja de Lamego, que proteges, a estar sempre pronta, preparada e diligente para dar Jesus Cristo aos nossos irmãos que no-lo pedem.
Fui Eu, o Senhor, que te chamei, Sebastião,
E te enviei a tirar água com alegria
Das fontes da salvação.
Tomei-te pela mão
E modelei-te,
Coloquei-te
Como aliança do povo,
Como luz das nações
E dos corações.
Vai, de casa em casa, ó aguadeiro da paz e da bondade,
Dessedenta o meu povo ressequido,
Tu és o meu servo eleito e querido,
Amado,
Consagrado,
Tu és meu!
Vai, ergue bem alto esta lumieira,
E alumia
De alegria
A terra inteira.
E quando chegares ao fim,
Volta ao começo.
Recomeça!
Que a tua paz corra como um rio,
Como um fio de luz,
Como um desafio,
De pavio em pavio,
De mão em mão,
De coração em coração.
A tua missão,
Sebastião,
É ser clarão,
E entregar a luz
De Jesus
A cada irmão. Ámen
Lamego, 20 de janeiro de 2016, Solenidade de São Sebastião,
Padroeiro principal da nossa Diocese
+ António, vosso bispo e irmão