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Jubileu da Misericórdia | OBRAS DE MISERICÓRDIA
A globalização da indiferença tem sido denunciada pelo Papa Francisco em diferentes momentos, como aconteceu, por exemplo, na sua recente mensagem para a 49.ª Jornada da Paz. A indiferença diante do mal, do sofrimento e da miséria dos mais frágeis contribui para o alastrar das injustiças observadas no mundo.
A este propósito, como texto bíblico de referência, podemos reler Mt 25, 31-46, onde o Senhor nos avisa que o critério do juízo final é o amor, o mandamento supremo. De forma clara, esta passagem bíblica, que costumamos escutar no final do ano litúrgico, mostra que a condenação de Jesus é motivada pela omissão do bem. O pecado não está apenas no mal que se pratica, mas também no bem que se deixa por fazer.
O jubileu da misericórdia em curso pode ser uma oportunidade para “acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina”.
Nesse sentido, recordar as obras de misericórdia apresentadas por Jesus pode ser importante para “podermos perceber se vivemos ou não como seus discípulos” (MV 15). Aqui as enunciamos, adoptando a formulação feita pelo Papa Francisco no n.º 15 da Bula “O rosto da misericórdia”.
Obras de misericórdia corporal:
– dar de comer aos famintos;
– dar de beber aos sedentos;
– vestir os nus;
– acolher os peregrinos;
– dar assistência aos enfermos;
– visitar os presos;
– enterrar os mortos.
Obras de misericórdia espiritual:
– aconselhar os indecisos;
– ensinar os ignorantes;
– admoestar os pecadores;
– consolar os aflitos;
– perdoar as ofensas;
– suportar com paciência as pessoas molestas;
– rezar a Deus pelos vivos e defuntos.
Como refere o Catecismo da Igreja Católica, “as obras de misericórdia são as acções caridosas pelas quais vamos em ajuda do nosso próximo, nas suas necessidades corporais e espirituais” (n.º 2447). Contudo, como bem alertou o último concílio, as obras de misericórdia não substituem a justiça e não se pode oferecer “como dom de caridade aquilo que é devido a título de justiça” (AA 8).
As catorze obras de misericórdia podem, segundo W. Kasper, corresponder a quatro tipos de pobreza:
– pobreza física ou económica (não ter que comer, beber, casa, roupa, emprego, capacidade física para trabalhar), incluída nas quatro primeiras obras de misericórdia corporais;
– pobreza cultural (analfabetismo, , escassez de formação, exclusão social e cultural), a que correspondem as três primeiras obras de misericórdia espirituais;
– pobreza social e de relações (solidão, isolamento, viuvez, dificuldade de comunicação, discriminação, marginalização, prisão, desterro), presente nas três últimas obras de misericórdia corporais e na quinta e sexta espirituais;
– pobreza espiritual ou de alma (desorientação, vazio interior, desconsolo, desespero, confusão moral e espiritual, abandono, marginalização espiritual, apatia, indiferença), que pode ser enfrentada com a quarta e a sétima obras de misericórdia espirituais.
JD, in Voz de Lamego, ano 86/09, n.º 4345, 12 de janeiro de 2016
À conversa com o Arcipreste de Cinfães – Resende: Pe. Adriano Alberto
(Pe. Adriano, em primeiro plano, a conversar com D. António Couto, e olhar atento o Pe. Francisco Marques)
CONHECER MELHOR A NOSSA DIOCESE RONDA PELOS ARCIPRESTADOS
A nossa Diocese, desde há cerca de um ano, remodelou a sua divisão Arciprestal, passando de 14 arciprestados para apenas 6. No nosso Jornal, nos próximos tempos gostaríamos de conhecer melhor cada Arciprestado, divulgando esta realidade eclesial e diocesana. Para isso vamos ao encontro dos respectivos Arciprestes.
1 – A partir da experiência que tem, como descreveria a missão do Arcipreste?
Desde logo, gostaria de deixar uma palavra de desculpa ao Diretor do nosso jornal diocesano, sr. P. Joaquim Dioniso, pela demora no envio deste trabalho, mas circunstâncias várias não me possibilitaram a apresentação antes. Os elementos apresentados são relativos ao ano de 2014, daí não considerar as alterações entretanto surgidas com novas nomeações de párocos. Em relação aos outros elementos constantes das tabelas, terão os desajustes resultantes nomeadamente da desertificação humana que se vem verificando no interior do país. Julgo porém, que continuarão a constituir-se num contributo com interesse para uma melhor compreensão da realidade diocesana num determinado período.
Respondendo à pergunta colocada, as linhas orientadoras, subjacentes à missão do Arcipreste, encontramo-las no CIC, capítulo VII, do livro II, dedicado ao Povo de Deus, designação escolhida pelo Concílio Vaticano II, na sua Constituição Lumen Gentium, para designar a Igreja. Esta missão por sua vez tem subjacente uma forma de organização descrita no número 217 do Directório para o Ministério Pastoral dos Bispos. Em síntese é uma missão que deverá constituir-se em serviço e visando a comunhão no Arciprestado, considerado célula vital no tecido reticular da Diocese. Na base da ação a desenvolver, na coordenação da atividade pastoral deverá estar a Evangelização e a aplicação do Concílio Vaticano II.
2 – Dois concelhos, duas zonas pastorais, um Arcipreste. Tem sido difícil esta missão?
Tendo como referência o censos de 2011 e na configuração atual, o arciprestado integra Cinfães, o segundo concelho mais populoso da Diocese e Resende o quarto concelho mais populoso. Os dois concelhos em conjunto têm os níveis mais elevados de população ( ver quadro população censos 2011). As dificuldades sentidas estão também relacionadas: com a extensão da área geográfica; as dificuldades de transporte em termos de serviços públicos; as limitações existentes em termos de oferta de emprego com muitos dos naturais a procurarem uma oportunidade de trabalho na emigração em outros pontos do país e do estrangeiro; a deslocação dos jovens para outras cidades onde podem prosseguir os seus estudos universitários, entre outras.
3 – A nova divisão Arciprestal tem prós e contras. Quer enumerar alguns?
Como vantagens, o maior número de sacerdotes que pode proporcionar um maior enriquecimento em termos de reflexão e partilha de experiências e entreajuda. Como principais dificuldades a vastidão do espaço geográfico e as distâncias a percorrer com a consequente maior dificuldade das pessoas se encontrarem.
(Pe. Adriano, de frente para a imagem. Em primeiro plano, os Padres Assunção e Carlos Lopes)
4 – Na Igreja, as estruturas só existem para servir o Evangelho. A nova divisão auxilia ou dificulta esse serviço?
No sentido de se poderem aproveitar as vantagens descritas no número anterior e minorar as limitações, o arciprestado está organizado em duas zonas pastorais, Cinfães e Resende. Os sacerdotes reúnem-se em conjunto três vezes por ano, de forma alternada, numa das duas zonas pastorais e mensalmente por zona pastoral. O Conselho de Pastoral Arciprestal está organizado de forma a que em cada uma das suas secções estejam leigos e sacerdotes das duas zonas pastorais.,
5 – Quais os principais desafios pastorais que se colocam no Arciprestado?
Como principais desafios à ação pastoral penso continuarem atuais a linhas orientadoras colocadas na nota pastoral da conferência episcopal sobre a promoção da renovação da pastoral da Igreja em Portugal, bem como as apresentadas na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium com o enquadramento dado para a diocese através dos planos pastorais que vão sendo propostos.
6 – Que sugestões para dinamizar, mais e melhor, a actividade missionária da Igreja neste Arciprestado e na nossa Diocese?
Considero ser importante um trabalho conjunto, preparado, e envolvente de todos seja ao nível das pessoas, seja das estruturas e organismos dedicando uma atenção particular aos capítulo I e 5 da Exortação Pastoral Evangelii Gaudium dedicados respetivamente à transformação missionária da Igreja e aos evangelizadores com espírito, motivações para um renovado espírito missionário.
7 – Em plena de crise económica, que reflexos da mesma nas nossas paróquias e que respostas estão a ser dadas?
A crise económica, à semelhança do que aconteceu noutras zonas nosso país, levou a que algumas empresas, ainda que de pequena dimensão encerrassem a atividade, com o consequente desemprego. A emigração e o trabalho noutros pontos do país e do estrangeiro continuou a ser o caminho encontrado como resposta à necessidade de se encontrar um futuro melhor. Em colaboração com a Cáritas e através do trabalho dedicado de pessoas, IPSS, Misericórdias e Associações, com a colaboração generosa das comunidades, têm-se procurado respostas criando postos de trabalho e organizando a ação social de modo a minorar situações mais precárias com uma atenção maior aos mais idosos e desfavorecidos.
8 – Quanto à designação do Arciprestado, fica assim ou acha que poderia ter outro nome?
É a designação que surge, aquando da reorganização dos arciprestados, e se aceita na medida em que situa geograficamente o arciprestado e identifica as duas zonas pastorais que o constituem. Novas designações, que entretanto possam surgir, serão naturalmente apreciadas.
in Voz de Lamego, ano 86/09, n.º 4345, 12 de janeiro de 2016