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D. António Couto na Abertura da Porta Santa | Homilia
14/12/2015
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ATRAVESSAR A PORTA SANTA DA MISERICÓRDIA
- Por vontade boa do Papa Francisco, estamos hoje, nesta Igreja Catedral de Lamego, e em todas as Igrejas Catedrais do mundo inteiro, a abrir e a entrar com sentida Alegria e Emoção por esta Porta Santa da Misericórdia. Entrámos todos, Bispo, Sacerdotes e fiéis leigos, precedidos todos sempre pela Cruz do Senhor e pelo Livro dos Evangelhos.
- «Que alegria quando me disseram:/ Vamos para a Casa do Senhor./ Os nossos passos já se detêm às tuas portas, Jerusalém!». Assim sentiram e cantaram, ou cantaram e sentiram, muitas gerações de crentes bem antes de nós, fazendo sua a Alegria incontida que perpassa o Salmo 122. Assim cantou Jesus. Assim cantamos nós também. Sim, por que é que os nossos pés e os nossos passos se detêm às portas de Jerusalém, Cidade-Mãe, Cidade da Paz, Cidade da Alegria, Cidade da Fraternidade? Sim, por que é que os nossos pés e os nossos passos se detêm à porta de entrada da Casa do Senhor? Será porque essas portas estão fechadas? Seguramente não. É com certeza porque uma grande emoção se apodera de nós e nos aperta ou alarga o coração, quando, vindos de longe e de há muito tempo, transpomos o umbral sagrado da casa paterna e materna. Ali está o pai, ali está a mãe, ali estão os irmãos e as irmãs, ali está a mesa e a lareira acesa, ali está o pão, o cão e o gato, ali está a alegria sagrada de nos sentirmos rodeados de ternura com um certo calafrio à mistura.
- Meus queridos irmãos e irmãs, é assim que se entra em casa, quando se vem de longe e de há muito tempo. Há alegrias, lágrimas e emoções para partilhar, há histórias para ouvir e para contar. Sim, esta é a nossa casa, e aquela porta de entrada tem a espessura do amor e da ternura. É preciso atravessá-la devagar, não vamos tropeçar em alguma pequena lágrima caída. Aquela porta de entrada leva apenas um passo a transpor. Mas não podemos deixar lá fora a dor e o amor.
- «Esta é a nossa casa. A Igreja é a nossa casa», assim entoou bem alto o Papa Bento XVI, no discurso inaugural do Encontro de Aparecida, em 12 de Maio de 2007, e o Papa Francisco tem feito ouvir por toda parte este refrão. «Esta é a porta do Senhor:/ os justos entrarão por ela», assim cantamos nós outra vez, agora com o Salmo 118. Entrai, irmãos e irmãs, por esta porta do Senhor! Entrai em vossa casa. E não vos esqueçais de entrar com emoção, de entrar com o coração.
- Se entrardes com o coração, com o coração nas mãos, ouvireis em primeiro lugar, para espanto e encanto vosso, a oração de Deus, Deus a rezar. E Deus reza assim: «Que a minha vontade seja que a minha misericórdia possa vencer a minha ira, e que a minha misericórdia possa prevalecer sobre os meus outros atributos, de modo que eu trate os meus filhos com o atributo da misericórdia, e que, no meu relacionamento com eles, pare sempre no limiar da execução da justiça». Convenhamos que se trata de uma pérola de rara intensidade, beleza e surpresa. Sim, Deus também reza, e é de misericórdia o tom apaixonado da sua oração. E, se continuardes a escutar com o coração, caríssimos irmãos e irmãs, é quase certo que ouvireis o vosso nome, dito por Deus. Assim: Maria, Ana, Joana, Isabel, António, João, Manuel, Ismael, minha filha, meu filho, bendiz-me! E vós direis então lá do fundo do vosso coração: «Que a Tua vontade seja que a Tua misericórdia possa vencer a Tua ira, e que a Tua misericórdia possa prevalecer sobre os Teus outros atributos, de modo que possas tratar os teus filhos de acordo com o atributo da misericórdia, e possas, no teu relacionamento com eles, parar antes da execução da justiça. E Ele acenar-vos-á que sim com a cabeça».
- É assim que o vês, e é por isso que o vês, meu irmão e minha irmã, naquela Cruz, com a cabeça reclinada. Ele é Aquele que com a cabeça te acena sempre que sim com a cabeça. Ele é o Sim, Ele é a Porta, Ele é a Misericórdia sempre ali, sempre aqui, à tua espera, à nossa espera.
- Agora, podeis começar a vossa confissão. Ele, o nosso Deus, está lá, está aqui, sempre no serviço humilde da Paz e do Perdão. E da Alegria, a que insistentemente nos convida a Liturgia deste belo Dia de Advento.
O Senhor do Advento
É Aquele-que-Vem
Nascer em Belém,
Bater à nossa porta,
Pedir ao nosso coração
Um bocadinho de pão.
Tão pouco e tanto
Nos pede Jesus,
E para nosso espanto,
E para encanto nosso,
O Filho de Maria
Vem vestido de irmão nosso
De cada dia.
Ele anda por aí,
Ao frio e ao calor,
Rico e pobrezinho,
Nosso Senhor.
Vem, Menino,
Senhor do mundo,
Do sol e da lua,
Bate à minha porta,
Entra em minha casa,
E que, por graça, entre eu também na tua.
Igreja Catedral de Lamego, 13 de Dezembro de 2015, Abertura da Porta Santa da Misericórdia
+ António, vosso bispo e irmão