Arquivo
Festa da Dedicação da igreja-mãe
A nossa diocese assinalou festivamente, na última sexta-feira, mais um aniversário da Dedicação da sua catedral, a igreja-mãe de todas as igrejas diocesanas. A eucaristia, presidida por D. António Couto, contou com a participação de D. Jacinto Botelho e de alguns sacerdotes, bem como de um número não muito elevado de fiéis.
A atual catedral foi construída em meados do século XII, nos tempos do bispo D. Mendo, em substituição da capela de S. Sebastião existente. Nos séculos XV e XVI sofreu intervenções de fundo e, no século XVIII foi reedificada tal como a vemos hoje. Do edifico anterior restam a torre (sé. XII) e a fachada (séc. XVI). A sagração do templo actual foi feita no dia 20 de novembro de 1776, por D. Manuel de Vasconcelos Pereira.
20 de novembro
Não se registou a adesão de outros anos, quando esta data era assinalada no domingo seguinte, na Solenidade de Cristo Rei do Universo, quando era também vivido o Dia da Igreja Diocesana e, nos últimos anos, com a ordenação diaconal de futuros sacerdotes. O Dia da Família Diocesana está agendado para finais de Junho, no Santuário de Nossa Senhora da Lapa, e este ano, com tristeza, também não havia lugar a ordenações.
No início da celebração, o nosso bispo não deixou de fazer referência aos 239 anos da actual catedral, agradecendo o trabalho, dedicação e esforço de todos quantos contribuíram para a sua edificação e conservação ao longo dos séculos. Não apenas do edifício actual, mas também dos anteriores. Mas louvou, sobretudo, a acção pastoral e a vivência cristã de quantos, por estas paróquias foram, edificaram e vão edificando a Igreja Corpo de Cristo ao longo dos séculos que a nossa diocese já conta.
Partindo dos textos da Sagrada Escritura, D. António Couto sublinhou as palavras do profeta Ezequiel que fala do templo do Senhor como fonte de água viva que corre para vivificar e saciar todos. Porque Deus não abandona aqueles que criou e oferece a salvação a todos quantos se orientam pela Sua Palavra. Do Evangelho salientou a importância da presença e acção de cada um na edificação desse Templo e Corpo cuja cabeça é Cristo.
E terminava convidando os baptizados das 223 paróquias da diocese a tornarem presente e visível essa água que vivifica, através de um testemunho capaz de atrair, congregar e continuar a missão. O exemplo dos antepassados merece ser louvado, mas exige ser continuado neste tempo e nestas circunstâncias.
A catedral
A palavra “catedral” vem do grego “kátedra” e pode ser traduzida por “cadeira”. Embora pensemos de imediato no objecto que serve para sentar e repousar, falar desta “cadeira” é referir o lugar onde se senta aquele que ensina. O título de catedral concedido a uma igreja não lhe vem da sua grandeza ou antiguidade, mas do facto do bispo diocesano ter ali a sua “cadeira”, ou seja, a sua cátedra onde prega, ensina, preside, celebra…
A expressão “ecclesia cathedralis” é utilizada para designar a igreja que contém a cátedra oficial do bispo diocesano. Esta designação foi utilizada, pela primeira vez, nas actas do concílio de Tarragona, em 516. Outra designação utilizada era “ecclesia mater”, ou “igreja-mãe”. Também utilizamos a palavra “sé” para nos referirmos a este mesmo espaço, do latim “sedis” e se traduz por “cadeira”. Por isso, dizer “Sé Catedral” é uma redundância, já que as duas palavras significam a mesma coisa.
Em todas as dioceses do mundo, a catedral é lugar de referência da fé, um lugar sagrado onde os fiéis de uma igreja particular se reúnem para exprimir e proclamar a própria fé e a unidade em Cristo. A catedral é o centro eclesial e espiritual da diocese, o símbolo visível da unidade de toda a comunidade cristã, onde se reúnem todos os fiéis, sacerdotes, religiosos e religiosas de diferentes congregações, fiéis de todas as paróquias, de todas as comunidades, com diferentes sensibilidades, numa só assembleia visível, presidida e unificada pelo bispo que é garantia da comunhão e, por isso, garantia da autenticidade da fé e da vida cristã, a ligação real, histórica e mística com o Cristo histórico e com o Cristo ressuscitado e glorioso.
JD, in Voz de Lamego, ano 85/52, n.º 4339, 24 de novembro
Jubileu da Misericórdia | Continuidade
Ao convocar e dedicar este jubileu extraordinário à misericórdia, o Papa Francisco inscreve-se numa dinâmica eclesial que imediatamente o antecede.
O Papa que convocou a Igreja para o II Concílio do Vaticano, S. João XXIII, afirmava que a “misericórdia é o mais belo nome de Deus” e os documentos conciliares abandonaram o tom severo de concílios anteriores, adoptando o diálogo como ponte e a misericórdia como remédio, sublinhando a intenção pastoral daquela magna reunião eclesial.
A segunda encíclica de João Paulo II é dedicada a este tema: “Deus rico em misericórdia”, (Dives in misericórdia), em 1980. E será este Papa que, influenciado pela mística Irmã Faustina, sua conterrânea, vai proclamar o II domingo de Páscoa como Domingo da Divina Misericórdia, encarregando a Igreja de transmitir e testemunhar ao mundo o fogo da compaixão. Nas suas exéquias, aquele que viria a ser o seu sucessor, J. Ratzinger, apontou a misericórdia como ideia mestra de todo o seu longo e fecundo pontificado.
Após a sua eleição, em plena guerra fria, o Papa vindo do leste escrevera na sua primeira encíclica (Redemptor Hominis) que “todos e cada um dos homens são o caminho da Igreja”. Não um qualquer caminho, mas semelhante ao que Cristo percorreu e que culmina na sua entrega por amor, algo que parece estranho à mentalidade contemporânea que parece opor-se a Deus, convencida de que o desenvolvimento tecnológico e o progresso verificado não deixarão “espaço para a misericórdia” (DM 2) ou para a divindade.
Diante desta realidade, já o Concílio Vaticano II havia alertado: “O mundo actual apresenta-se, assim, simultaneamente poderoso e débil, capaz do melhor e do pior, tendo patente diante de si o caminho da liberdade ou da servidão, do progresso ou da regressão, da fraternidade ou do ódio. E o homem torna-se consciente de que a ele compete dirigir as forças que suscitou, e que tanto o podem esmagar como servir” (GS 9).
Apesar dos avanços conseguidos, S. João Paulo II percebe que ficar por aí não chega e escreve que “a justiça, por si só, não é suficiente”. Porque a “permissividade moral” atinge a convivência humana e “é esta desmoralização que se transforma muitas vezes em ‘desumanização’. O homem e a sociedade, para os quais nada é ‘sagrado’, decaem moralmente não obstante as aparências” (DM 12).
E é neste contexto que aquela encíclica apresenta o amor divino, “paciente e benigno” (1 Cor 13, 4), que acolhe o homem e o motiva no caminho da conversão, porque o “autêntico conhecimento do Deus da misericórdia, Deus do amor benigno, é a fonte constante e inexaurível de conversão” (DM 13).
Na Bula que convocou este jubileu (Misericordiae vultus), o Papa Francisco reassume a necessidade da Igreja contemplar o mistério da misericórdia e dela dar testemunho, apesar da limitação do pecado (MV 2 e 3).
JD, in Voz de Lamego, ano 85/52, n.º 4339, 24 de novembro