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Jubileu da Misericórdia | ano santo temático
Ano Santo temático
Tal como escrito na semana passada, este é um jubileu extraordinário, convocado fora das datas habituais. Mas é também singular no que respeita ao tema escolhido e assumido: a misericórdia. Por isso, na sua apresentação, o cardeal Fisichella falou de um “jubileu temático”, que se apoia no conteúdo central da fé e se propõe renovar o convite à Igreja para assumir a sua missão prioritária: ser sinal e testemunho da misericórdia em todos os aspectos da vida pastoral.
Na Bula de proclamação deste jubileu, “O rosto da Misericórdia”, o Papa dirige-se a todos para justificar a sua decisão e fundamentar o tema do jubileu: “Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado” (n.º 2).
O tema da misericórdia, escolhido para este jubileu extraordinário, é oportuno e até nem terá sido uma grande novidade, se atendermos às intervenções papais e às vezes em que o tema foi referido nas suas palavras e iniciativas. Lembremos a deslocação à ilha de Lampedusa – a primeira fora de Roma – para visitar refugiados, os contínuos apelos à paz diante dos conflitos, a denúncia diante de uma sociedade que descarta os mais fracos e idosos, as palavras duras e certeiras diante de uma economia que mata, o convite à preservação do planeta, as assembleias sinodais sobre a família, etc. Também aos líderes de outras religiões o Papa Francisco apresentou a misericórdia como caminho, quando os convidou para a via do diálogo e para a denúncia do que contribui para a perseguição e a morte.
Os cristãos precisam contemplar o rosto misericordioso de Deus revelado em Jesus Cristo para poderem meditar a reconfortante boa nova de serem amados, apesar dos limites. Ter consciência deste amor divino que está para além da justiça concede alegria e serenidade, ao mesmo tempo que motiva a sentimentos semelhantes diante do próximo. A misericórdia não é o sentimento dos fracos, dos que não conseguem retribuir “na mesma moeda”, mas a única realidade que pode trazer a verdadeira paz, porque resulta de algo que ultrapassa a mera justiça distributiva.
Na carta que o Papa escreveu a D. Rino Fisichella, o importante é que, durante este Ano Santo, cada um tenha uma “experiência vida da proximidade do Pai” e seja capaz de “sentir pessoalmente a sua ternura, para que a fé de cada crente se revigore e assim o testemunho se torne cada vez mais eficaz”.
in Voz de Lamego, ano 85/50, n.º 4337, 10 de novembro