Arquivo
Seminário interdiocesano: “SER DISCÍPULOS PARA SER SERVOS”
O Seminário Maior Interdiocesano de São José, formado por seminaristas das Dioceses de Bragança-Miranda, Guarda, Lamego e Viseu, foi inaugurado oficialmente em Outubro de 2013. Por essa altura foi elaborado o Projecto Formativoe, com ele, surgiu a proposta do lema: Ser discípulos para ser servos.Olhando, em retrospectiva, para os dois anos de caminho feito e, em perspectiva, para o caminho que há a fazer, apraz-me dizerque não escolhemos este lema. De certa forma, fomos escolhidos por ele. Porque somos chamados por Deus a configurar-nos a Cristo que “não veio para ser servido mas para servir e dar a vida” (Mc 10,45).
É comum dizer-se que o primeiro seminário foi formado pelos doze apóstolos com Jesus. Na verdade, durante a vida pública, Jesus dedicou muito do seu tempo a formar os apóstolos. Eles viveram com o Senhor, aprenderam com as suas palavras e as suas acções. O ‘primeiro seminário’ não foi uma escola ou um edifício construído para os colocar à parte da sociedade,mas a vida diária de comunhão com Ele. As ‘aulas’ do Mestre não tinham horário nem lugar específico: podiam acontecer nomonte ou na planície, numa casa de família ounuma sinagoga,nas ruas das aldeias e cidades.
Jesus “fez doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar” (Mc 3,14). Antes de os enviar mandou-os estar. A sequência não deixa dúvidas e mostra um Mestre sem pressa, mesmo sabendo que há muitas paróquias sem Missa! E o seminário corresponde a essa etapa intermédia e indispensável (“estar com Ele”), depois do chamamento e antes do envio. Antes de falar de Deus, é preciso ouvi-l’Oe falar com Ele. Permanecer antes de ir. Aprender antes de ensinar. Ser antes de fazer.Se o Mestre veio para servir, o discípulo não veio senão para aprender a servir e para ser enviado como servo. O seminário é o nosso monte e a nossa planície, a nossa casa e sinagoga, a rua onde se cruzam vidas e histórias, onde se encontram o Mestre do serviço e o aprendiz de servo, onde nos sabemos “discípulos para ser servos”.
O Filho de Deus que veio para servir e dar a vida,fez de toda a sua existência um serviço e da sua morte uma entrega por amor. É significativo que os evangelistas,para penetrar no mistério da morte do Filho de Deus, se tenham servido de um personagem descrito pelo profeta Isaías como o “Servo de Jahveh”.
Tradicionalmente (e alguma literatura portuguesa disso fez eco), uma ideia associada com os seminários era aquela de lugares de disciplina. Curiosamente, a etimologia latina mostra que discípulo e disciplina têm raiz comum. Mas o Evangelho e a vida mostram que só a disciplina não faz o discípulo, muito menos um discípulo chamado a ser o servo de todos. A falta de sintonia dos doze com o modo de pensar de Jesus, por um lado, e um certo estilo de vida clerical e burguês, por outro, alertam-nos que sem mudança de mentalidade, sem conversão, um padre continua a pensar e a viver como os grandes deste mundo.
Só depois da Páscoa a mentalidade dos discípulos mudou definitivamente. Para fazer de padre, a disciplina e a formação do seminário bastam (e uma roupa escura ajuda). Para ser padre, não. Para ser padre à maneira de Cristo Servo, é preciso passar pela páscoa. Tem de se morrer primeiro. É preciso morrer e ressuscitar. Para que do seminário saiamhomens novos, revestidos da novidade de Jesus e do Evangelho, dispostos a servir e a dar a vida.
Pe. Paulo Figueiró, in Voz de Lamego, ano 85/50, n.º 4337, 10 de novembro
SEMINÁRIO – FORMAÇÃO | Editorial Voz de Lamego | 10 de novembro
Vivemos a Semana dos Seminários (48 a 15 de novembro de 2015). A edição desta semana da Voz de Lamego dedica-lhe algumas páginas, recolhendo o testemunho de dois seminaristas maiores. Muitos outros temas, reflexões e notícias povoam o Jornal da Diocese e que procura aproximar as pessoas e as comunidades, informando e formando.
O Editorial, do Pe. Joaquim Dionísio, faz-nos refletir na temática dos seminários e das vocações:
SEMINÁRIO – FORMAÇÃO
A Semana dos Seminários marca o ritmo eclesial destes dias nas nossas comunidades cristãs. O tema proposto pela Comissão Episcopal Vocações e Ministérios, “Olhou-os com misericórdia”, está presente nos cartazes e pagelas distribuídos e motivou também a mensagem do nosso bispo, aqui publicada na semana passada.
O Senhor olha e chama, porque ama e nos quer junto de si. Não porque sejamos imaculados, perfeitos ou melhores que outros, mas porque tem misericórdia. E todos os homens e mulheres são destinatários desse “olhar agraciador” (D. António Couto) que dá vida, evidencia um amor único e chama. E é importante tomar consciência desse olhar, porque é salutar sentir que não se está esquecido, que se existe para alguém, que se é amado.
A par do universal chamamento à vida e à santidade que a todos abrange, o Senhor olha e chama também para o serviço à Igreja, através do ministério ordenado. Nesse sentido, o Seminário existe para acolher todos quantos se deixam interpelar por esse olhar divino que convida e se disponibilizam para um caminho de formação que os prepare para serem enviados. Daqui partirão os sacerdotes para servir o Povo de Deus.
Nos nossos dias, o Seminário é mais do que uma casa que acolhe seminaristas ou sinónimo do caminho que antecede a ordenação sacerdotal: é um espaço diocesano privilegiado para a formação cristã.
Sem deixar de cumprir a missão para que nasceu, o Seminário – sendo já um espaço aberto, acessível e disponível – pode reforçar a sua centralidade no campo da formação e afirmar-se como escola de fé que sempre foi, diversificando os destinatários.
O Seminário contribui para formar os pastores de amanhã, mas tem as suas portas abertas para ajudar, hoje, à edificação da Igreja de Cristo.
in Voz de Lamego, ano 85/50, n.º 4337, 10 de novembro