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Archive for 30/10/2015

Sínodo dos Bispos: discernimento em casos difíceis

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Com a autorização do Papa, foi publicado na noite de sábado o Relatório Final do XIV Sínodo ordinário sobre a Família. Composto de 94 parágrafos, votados singularmente, o documento foi aprovado por maioria de 2/3, ou seja, sempre com o mínimo de 177 votos. Os padres sinodais presentes eram 265. O documento se encerra com o pedido dos Padres Sinodais ao Papa de um documento sobre a família, indicando a perspectiva que ele deseja dar neste caminho.

Segundo Padre Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, apenas dois parágrafos obtiveram a maioria com margem limitada e são os que se referem a situações difíceis, como a abordagem pastoral às famílias feridas ou em situação irregular do ponto de vista canónico e disciplinar: convivências, casamentos civis, divorciados recasados e o caminho para se aproximar pastoralmente destes fiéis.

Indissolubilidade matrimonial

O Relatório define a doutrina da indissolubilidade do matrimónio sacramental como uma verdade fundada em Cristo mas ressalva que verdade e misericórdia convergem em Cristo e, portanto, convida ao acolhimento das famílias feridas. Os padres sinodais reiteram que os divorciados recasados não são excomungados e reafirmam que os pastores devem usar o discernimento para analisar as situações familiares mais complexas. O ponto 84 explica que a participação nas comunidades dos casais em segunda união pode se expressar em diferentes serviços: “Deve-se discernir quais formas de exclusão atualmente praticadas nos âmbitos litúrgico, pastoral, educativo e institucional podem ser superadas”.

Discernimento

À situação específica dos casais em segundas núpcias, o ponto 86 do documento faz referência a um percurso de acompanhamento e de discernimento espiritual com um sacerdote, pois a ninguém pode ser negada a misericórdia de Deus. Neste sentido, “para favorecer e aumentar a participação destes fiéis na vida da Igreja, devem ser asseguradas as condições de humildade, discrição, amor à Igreja e a seu ensinamento, na busca sincera da vontade de Deus e no desejo de dar uma resposta a ela”.

Em relação ao crescente fenómeno dos casais que convivem antes de se casar ou depois de um matrimónio sacramental, é uma situação que deve ser enfrentada de maneira construtiva e vista como uma oportunidade de conversão para a plenitude do matrimónio e da família, à luz do Evangelho.

Pessoas homossexuais e uniões homossexuais

Pessoas homossexuais não podem ser discriminadas, mas a Igreja é contrária às uniões entre pessoas do mesmo sexo. O Sínodo julga também inaceitável que as Igrejas locais sofram pressões neste campo e que organismos internacionais condicionem ajudas financeiras aos países pobres à introdução do “casamento” entre pessoas do mesmo sexo.

Alguns parágrafos abrangem questões dedicadas aos migrantes, refugiados e perseguidos cujas famílias são desagregadas e podem ser vítimas do tráfico de pessoas. Os bispos invocam o acolhimento ressaltando os seus direitos e deveres nos países que os hospedam.

Valorizar a mulher, tutelar crianças e idosos

Os padres sinodais condenaram a discriminação contra mulheres em todo o mundo, incluindo a penalização da maternidade. Em relação à violência, ressaltam que “a exploração das mulheres e a violência exercida sobre o seu corpo estão muitas vezes unidas ao aborto e à esterilização forçada”. Pede-se também uma maior valorização da responsabilidade feminina na Igreja, com intervenção nos processos de decisão, participação no governo de algumas instituições e envolvimento na formação do clero.

A respeito da reciprocidade e na responsabilidade comum dos cônjuges na vida familiar, afirma-se que “o crescente compromisso profissional das mulheres fora de casa não encontrou uma adequada compensação num maior empenho dos homens no ambiente doméstico”.

Sobre as crianças, o documento entregue ao Papa ressalta a beleza da adoção e do acolhimento temporário, que “reconstroem relações familiares rompidas” e menciona também os viúvos, os portadores de deficiência, os idosos e os avós, que permitem a transmissão da fé nas famílias e devem ser protegidos da cultura do descarte. Também as pessoas não casadas são lembradas por seu engajamento na Igreja e na sociedade.

Fanatismo, individualismo, pobreza, precariedade no trabalho

Como sombras dos tempos atuais, o Sínodo cita o fanatismo político-religioso hostil ao cristianismo, o crescente individualismo, a ideologia do género, os conflitos, perseguições, a pobreza, a precariedade no trabalho, a corrupção, os problemas económicos que excluem famílias da educação e da cultura, a globalização da indiferença, a pornografia e a queda da natalidade.

Preparação ao matrimónio

O documento final reúne as propostas para reforçar a preparação ao matrimônio, principalmente dos jovens que hoje têm receio de se vincular. É recomendada uma formação adequada à afetividade, seguindo as virtudes da castidade e do dom de si. Outra relação mencionada no texto é entre a vocação à família e a vocação à vida consagrada. São também fundamentais a educação à sexualidade e a corporeidade e a promoção da paternidade responsável.

Família, porto seguro

Enfim, o a Relatório sublinha a beleza da família, Igreja doméstica baseada no casamento entre homem e mulher, porto seguro dos sentimentos mais profundos, único ponto de conexão numa época fragmentada, parte integrante da ecologia humana. Deve ser protegida, apoiada e encorajada.

in Voz de Lamego, ano 85/48, n.º 4335, 27 de outubro

JUBILEU EXTRAORDINÁRIO MISERICÓRDIA | ANÚNCIO

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No passado dia 11 de abril, na véspera da vivência do Domingo da Misericórdia (II Dom. Pascal), o Papa Francisco tornou pública a Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, “O rosto da misericórdia” (Misericordiae vultus). Ao todo, cerca de 24 páginas (Paulinas Editora) que valerá a pena ler e meditar para melhor perceber a intenção do Papa e ficar a conhecer os objectivos e percursos deste Jubileu que se inicia já no próximo dia 8 de dezembro.

Consciente da missão e presença eclesial no mundo, atento ao tempo que passa e mostra tantas situações de conflito, discórdia e ressentimentos, o Papa não tem dúvidas de que este é “o tempo do regresso ao essencial” e que “chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão”, porque “o perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde coragem para olhar o futuro com esperança” (n.º 10). Nesse sentido, “o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma ação pastoral renovada” (n.º 12).

O convite para contemplar, meditar e testemunhar a misericórdia divina é dirigido a todos, tendo em vista o desejo de que cada um se possa tornar “um sinal eficaz do agir do Pai”, já que o agir misericordioso “torna-se o critério para individuar quem são os seus verdadeiros filhos” (n.º 9). E conclui: “Foi por isso que proclamei um Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes” (n.º 3).

O ponto de partida é Jesus Cristo “o rosto da misericórdia do Pai” (n.º 1) que “precisamos sempre de contemplar”, porque é “fonte de alegria, serenidade e paz” (n.º 2) e “tudo nele fala de misericórdia” (n.º 8). A misericórdia de Deus “não é uma ideia abstrata mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até ao mais íntimo das suas vísceras” (n.º 6).

Por isso, falar de misericórdia é ter presente “o caminho que une Deus e o homem” que “nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado” (n.º 2), porque a “misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa” (n.º 3).

O ano jubilar, que terminará no dia 20 de novembro de 2016, Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo, ficará marcado por várias e variadas celebrações, cujo objectivo primeiro será sempre o testemunho dos baptizados: “Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos, em suma, onde houver cristãos, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia” (n.º 12).

JD, in Voz de Lamego, ano 85/48, n.º 4335, 27 de outubro