Arquivo
Pe. Duarte Vaz | No colo de Deus para uma vida optimizada
No passado dia 17 deste mês, com 90 anos de idade, partiu para o Pai o Padre Duarte Vaz, sacerdote do nosso presbitério que, nos últimos anos, residiu na sua terra natal, Fontelo, concelho de Armamar. Nas últimas semanas a sua saúde tinha vindo a enfraquecer, passando até por um tempo de internamento no hospital de Lamego.
O Padre Duarte Martins Vaz era filho de António Vaz de Oliveira e de Maria Aurora Martins da Silva e nasceu na Quinta do Vilar, em Fontelo, no dia 26 de Março de 1925. Quando tinha 7 anos de idade foi viver para Pinheiro, Castro Daire onde o seu tio era pároco, e só regressou a Fontelo após se ter jubilado. Frequentou os nossos seminários diocesanos e foi ordenado diácono a 6 de Agosto de 1950, na capela do seminário, onde algumas semanas depois, a 03 de Setembro de 1950 foi ordenado presbítero. Inicialmente foi nomeado pároco de Chosendo e Seixo, na zona pastoral de Sernancelhe e algum tempo depois assumiu a missão de coadjutor de Pinheiro e Ermida. Em fevereiro de 1957 foi nomeado pároco de Pinheiro e Ester e a 11 de dezembro de 1979 foi nomeado pároco de Ermida, sempre na zona pastoral de Castro Daire. Após a jubilação, já em Fontelo e enquanto as forças existiram, auxiliou sempre o pároco, Padre Libório.
A Missa exequial foi presidida pelo nosso bispo, D. António Couto, a que se juntaram D. Jacinto Botelho, cerca de três dezenas de sacerdotes e muitos fiéis que encheram por completo a igreja paroquial de Fontelo. Alguns sacerdotes passaram antes, já que à hora a que a celebração teve lugar, 17h30, coincidia com outras atividades pastorais já previstas. E foram muitos os fiéis que vieram das paróquias onde o Padre Vaz vivera a sua missão pastoral. Entre os sacerdotes presentes, o Padre Acácio Soares, já jubilado, mas que continua muito ativo na paróquia onde reside, Cinfães. O corpo do padre Vaz foi a sepultar no cemitério local.
Na homilia, e a propósito da vida que recebemos de Deus e que devemos cuidar, vivendo-a em atitude de louvor e com responsabilidade, D. António Couto lembrou a última encíclica do Papa Francisco, apresentada precisamente neste dia, 18 de Junho, e que aborda o “cuidado que devemos ter com a casa comum” que é o mundo. Diante da pressa instalada, da correria que priva do tempo para contemplar a criação e louvar a vida e o seu Autor, o nosso bispo afirmou que “a vida é bela quando formos capazes de saborear o aroma de uma flor, que está de passagem” e que é importante tomar consciência de que estamos “tranquilos e serenos ao colo da irmã terra, no colo do nosso Deus”, parafraseando S. Francisco de Assis no seu hino de louvor ao Deus criador, também utilizado pelo Papa para este seu novo documento, “Louvado sejas”.
Contemplando o mundo e tomando consciência de que estamos no colo de Deus, a quem podemos chamar ‘paizinho’, não podemos senão assumir e descrever “uma vida optimizada”, evitando uma leitura negativista da realidade e assumindo “a nossa vida como um espelho de esperança”.
JD, in Voz de Lamego, n.º 4319, ano 85/32, de 23 de junho de 2015
ECOLOGIA INTEGRAL | Editorial Voz de Lamego | 23 de junho de 2015
No dia 18 de junho, foi publicada a segunda Encíclica do Papa Francisco, Laudato Si’, sobre o cuidado da casa comum, isto é, numa dinâmica de promoção do ambiente natural e humano. A primeira Encíclica deste Papa, Lumen Fidei, publicada a 29 de junho de 2013, foi escrita a 4 mãos. Sabia-se que o Papa Bento XVI tinha uma esboço bastante avançado da Encíclica sobre a Fé, depois de ter escrito sobre a Caridade e sobre a Esperança, como virtudes teologais. O Papa Francisco assumiu a herança do antecessor, acrescentou algumas notas mais pessoais, e ofereceu essa belíssima Encíclica à Igreja e ao mundo. Há já alguns meses que se vinha a anunciar que a próxima Encíclica papal teria como fio condutor a ecologia. Poder-se-ia quase dizer que esta é a primeira Encíclica de Francisco, pelo deve suscitar um estudo aprofundado.
No Editorial desta semana, o Pe. Joaquim Dionísio, Diretor da Voz de Lamego, faz a ressonância da temática desta carta Encíclica, que evoca o patrono do Papa, São Francisco de Assis, nessa comunhão com a natureza e com os pobres.
ECOLOGIA INTEGRAL
A encíclica do Papa retoma a invocação de S. Francisco de Assis, “Louvado sejas meu Senhor”, do Cântico das Criaturas que nos recorda que a terra, nossa casa comum, é como “uma irmã, com quem partilhamos a existência” e como uma boa mãe “que nos acolhe nos seus braços”. Revisitando a teologia da criação a partir do princípio do dom, o Papa desconstrói a tese segundo a qual o homem deveria “dominar a terra”, instrumentalizando-a.
Num texto denso, dividido em 246 parágrafos e distribuídos por seis capítulos, o Papa expressa o seu pensamento sobre um planeta que sofre e a responsabilidade do homem. Eis o convite para uma conversão ecológica, tão necessária para manter vida a esperança e louvar o Criador.
Entre o muito que ali se pode ler, destaque para o conceito de “ecologia integral” (n.º 137), que permite ao Papa ultrapassar a distinção entre uma ecologia que protege o ser humano e uma ecologia que não se interessa senão com a natureza. A preocupação pela natureza, a justiça para os pobres, o compromisso social e a paz são inseparáveis. Há quem defenda a água e os animais e se esqueça dos vizinhos; há quem defenda o bem-estar do vizinho e se esqueça de que os recursos são limitados. De resto, este conceito integra-se num outro já defendido pela Igreja, o de “desenvolvimento integral”, de todo o homem e de todos os homens.
A nossa época é marcada por um desmesurado antropocentrismo, propício a uma cultura do descartável, que justifica todo o tipo de despejo, seja ambiental ou humano, que trata o outro como simples objecto e conduz a formas de dominação, económicas e sociais. Protagonizar uma ecologia integral é ter uma preocupação inclusiva e empenhar-se num novo paradigma de justiça.
in Voz de Lamego, n.º 4319, ano 85/32, de 23 de junho de 2015