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JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA | Ano Santo
No passado dia 11 de abril, na véspera da vivência do Domingo da Misericórdia (II Dom. Pascal), o Papa Francisco tornou pública a Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, “O rosto da misericórdia” (Misericordiae vultus). No sentido de divulgarmos este Ano Santo da Misericórdia, aqui ficam algumas breves e incompletas notas sobre a referida Bula, cuja leitura e meditação se recomendam.
Jubileu
O termo jubileu evoca o Ano Santo dos judeus, palavra que significa “toque de trompa”, porque tal ano era anunciado por este instrumento. Na Bíblia distinguem-se o “ano sabático” e o “ano jubilar”.
O ano sabático é o último ano de um período de sete anos. O agricultor semeará os seus campos e colherá os produtos dele durante seis anos, mas, no último ano, deixá-los-á em pousio e o que eles produzirem espontaneamente será abandonado aos indigentes e aos animais do campo. Neste mesmo ano, os escravos serão libertados.
O ano jubilar é o que termina as sete semanas dos sete anos (7×7=49). É anunciado ao som da trombeta, deixam-se então os campos incultos, libertam-se todos os escravos, perdoam-se todas as dívidas e devolvem-se ao proprietário ou aos seus herdeiros todos os bens fundiários comprados (Lev 25, 10. 23 e seguintes).
Na Igreja católica, o primeiro ano jubilar foi decretado por Bonifácio VIII para o ano de 1300. Estava previsto para todos os começos de século, em seguida passou para todos os cinquenta anos e, finalmente, todos os vinte e cinco anos. O início e o fim do jubileu são assinalados pela abertura da porta sagrada, em Roma.
A misericórdia divina
Jesus Cristo “é o rosto da misericórdia do Pai” (n.º 1) que “precisamos sempre de contemplar”, porque é “fonte de alegria, serenidade e paz” (n.º 2). A misericórdia de Deus “não é uma ideia abstrata mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até ao mais íntimo das suas vísceras” (n.º 6).
Por isso, falar de misericórdia é ter presente “o caminho que une Deus e o homem” que “nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado” (n.º 2), porque a “misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa” (n.º 3).
Lema do Ano:
“Misericordiosos como o Pai” (n.º 14)
Algumas datas
11/04/2015 – Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia
08/12/2015 – Início do Ano Santo da Misericórdia
15/12/2015 – Abertura da Porta Santa, na Basílica de S. João de Latrão, catedral da diocese de Roma. No mesmo domingo, abertura da Porta da Misericórdia em todas as igrejas catedrais do mundo, bem como noutras igrejas de referência ou santuários
Quaresma de 2016 – envio dos “missionários da misericórdia”, sacerdotes a quem o Papa concederá a faculdade de perdoarem até os pecados reservados à Sé Apostólica.
04 e 05/03/2016 – Iniciativa “24 horas com o Senhor””, um tempo ininterrupto de adoração em todas as dioceses.
20/11/2016 – Encerramento do Ano Jubilar
Objetivos
“Há momentos em que somos chamados, de maneira mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos um sinal eficaz do agir do Pai. Foi por isso que proclamei um Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes” (n.º 3).
“Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão. É o tempo do regresso ao essencial… o perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde coragem para olhar o futuro com esperança” (n.º 10).
Por isso, “o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma ação pastoral renovada” (n.º 12).
“Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos, em suma, onde houver cristãos, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia” (n.º 12).
Reconciliação
O Papa dedica algumas palavras ao sacramento da confissão, convidando todos os baptizados a aproximarem-se para “celebrar e experimentar a misericórdia de Deus” e insistindo junto dos confessores para que sejam “um verdadeiro sinal da misericórdia do Pai” (n.º 17).
Durante a próxima Quaresma, o Papa anuncia também o envio de “missionários da misericórdia”, sacerdotes a quem dará “autoridade de perdoar mesmo os pecados reservados à Sé Apostólica, dizendo aos bispos para convidarem e acolherem “estes missionários” (n.º 18).
Obras de misericórdia
“Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7) é a bem-aventurança destacada pelo Papa, na esperança de que suscite particular empenho por parte dos fiéis (n.º 9).
Convidando a “ir às periferias”, às “situações de precariedade e sofrimento”, evitando a “indiferença que anestesia” ou o “cinismo que destrói”, o texto papal recorda-nos as obras de misericórdia corporal (dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos e enterrar os mortos) e espiritual (aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas e rezar pelos vivos e defuntos), esperando que a sua leitura e meditação “acorde as consciências adormecidas” (n.º 15).
Desejo final
“Neste Ano Jubilar, que a Igreja se faça eco da Palavra de Deus que ressoa, forte e convincente, como uma palavra e um gesto de perdão, apoio, ajuda, amor. Que ela nunca se canse de oferecer misericórdia e seja sempre paciente a confortar e a perdoar. Que a Igreja se faça voz de cada homem e mulher e repita com confiança e sem cessar ‘Lembra-te, Senhor, da tua misericórdia e do teu amor, pois eles existem desde sempre’ (Sl 25, 6)” (n.º 25).
JD, in Voz de Lamego, n.º 4314, ano 85/27, de 19 de maio de 2015