4.ª Conferência Quaresmal de D. António: Ser discípulo de Jesus
Por caminhos da Galileia até Jerusalém
Ser discípulo de Jesus
Foi este o tema apresentado pelo nosso Bispo na Conferência quaresmal do dia 15 do corrente. Com a Sé a abarrotar de gente, muitos à espera da Procissão do Senhor dos Passos que seguiria da Sé para a Igreja da Graça, na paróquia de Almacave, outros para ouvirem a palavra do Senhor D. António Couto e, depois, se integrarem na mesma Procissão; mas todos juntos ouviram com interesse a palavra do Senhor Bispo, que pôs diante de nós um tríptico tão instrutivo como simples de entender sobre o modo de mostrar que somos discípulos de Jesus.
Sob o signo do caminho, fomos convidados a olhar aquele que Jesus percorreu para ir da Galileia até Jerusalém, numa decisão por Ele tomada e que não dava a possibilidade de voltar atrás. «O rosto duro» com que Jesus iniciou a caminhada e que fazia lembrar a palavra de Isaías na descrição do «Servo do Senhor», indicava a dificuldade que Jesus encontraria na Cidade, mas não deixava de ser ocasião para alguns quererem tomar o mesmo caminho, indo com Jesus,
Assim nos aparecem as figuras do que quer seguir Jesus, mas a quem Ele responde que «o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça»; a dos que são chamados, mas querem ir sepultar seu pai ou despedir-se de toda a família e a quem Jesus diz a palavra «segue-Me» ou então «quem põe as mãos no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus».
Ser discípulo de Jesus
Discípulo é o enviado, o que se aproxima dos outros que dele precisam e os que ouvem a Sua palavra. Personificados nos que Jesus enviou, dois a dois aos lugares onde Ele havia de ir, no samaritano e em Maria, irmã de Marta e de Lázaro, foram caracterizados por Jesus como os que Ele veio procurar e ensinar para serem Seus verdadeiros discípulos.
Enviados sem saco ou alforge às costas ou sandálias nos pés, levavam consigo o «Evangelho da Alegria». «Assim partem de Jesus, que os envia, e voltam a Jesus, cheios da Alegria» de que foram transportadores e anunciadores: o seu ponto de referência foi Jesus.
O segundo quadro do tríptico andou à volta da parábola do samaritano. Um homem ferido e abandonado à beira do caminho; roubado e espancado, ali ficou como «meio morto»; sem nome, como aqueles que por ali passaram, houve quem passasse ao lado, mesmo tendo-o visto e com necessidade de ajuda; vendo-o, passaram para o outro lado do caminho e seguiram em frente.
Passou também um samaritano, aproximou-se para ver e logo pôs em acção a sua capacidade activa, criativa: tratou-o como pôde e levou-o à estalagem próxima, dizendo ao hospedeiro: «cuida dele e o que gastares a mais, repor-to-ei quando voltar».
Figura central na doutrina de Jesus, é a aproximação ao irmão, para ver melhor o que podemos e devemos fazer.
O terceiro quadro do tríptico leva-nos a Betânia, a casa de uma família amiga de Jesus, mas onde há possibilidades e necessidades de trabalho e atenção ao Mestre que chega. Marta pensa logo na refeição e depressa se queixa a Jesus, de que a irmã não faz nada; Maria, sentada, pensa em ouvir a palavra de Jesus. Conhecemos bem o diálogo da ocasião, com Jesus a ensinar que o verdadeiro discípulo «escolhe a BOA parte, que não lhe será tirada».
Quem é, então, o verdadeiro discípulo de Jesus? O que é enviado, o que se aproxima, o que ouve. Assim faz caminho para Jerusalém, caminho da Páscoa, caminho da Ressurreição. Hoje o nosso caminho, podemos nós dizer também.
Senhor dos Passos
Foi do nosso Bispo a palavra de oração com que terminou a conferência deste Domingo e que damos a conhecer aos nossos leitores:
«Senhor Jesus,
Senhor dos Passos
Serenos e seguros na caminho da vida e da Paixão,
Da Ressurreição.
Senhor Jesus
Senhor dos Passos
Sossegados e firmes, Resolutos,
Até à porta do meu coração.
Senhor Jesus,
Senhor dos Passos,
Dos meus e dos teus,
Finalmente harmonizados,
Finalmente lado a lado,
Os meus, atravessados pela tua Paixão
Os teus, sincronizados pelo pulsar do meu coração.
Sim,
Eu sei que foi por mim que desceste a este chão
Pesado, íngreme, irregular,
De longilíneas lajes em que é fácil escorregar.
Senhor Jesus,
Deixa-me chegar mais um pouco junto de ti,
Chega-te tu também mais junto de mim.
Segura-me.
Dá-me a tua mão firme, nodosa e corajosa.
Agarro-me.
Sinto sulcos gravados nessa mão.
Sigo-os com o dedo devagar
Percebo que são as letras do meu nome.
Foi então por mim que desceste a este chão.
O amor verdadeiro está lá sempre primeiro.
Obrigado, Senhor Jesus,
Meu Senhor, meu Irmão e companheiro.»
Pe. Armando Ribeiro, in Voz de Lamego, n.º 4305, ano 85/18, de 17 de março de 2015