3.ª Conferência Quaresmal de D. António: Vai, a tua fé te salvou!
Trilhar com ousadia o caminho de Jesus
Vai, a tua fé te salvou!
No final da sua visita pastoral às paróquias da cidade de Lamego, D. António Couto, apresentou mais um tema nas suas “Catequeses Quaresmais”. Fez uma breve retrospectiva da sua visita às duas paróquias da cidade e entrelaçou-a com alguns temas apresentados nas anteriores catequeses.
O cego de Jericó
O episódio oferecido na reflexão deste dia é retirado de Mc 10, 46-52. Jesus vai a sair da cidade de Jericó e encontra um cego (Bartimeu) à beira do caminho que lhe suplica: Jesus, Filho de David, “faz-me graça”, “faz de mim um homem novo”, “recria-me, “embala-me nos teus braços maternais”… Chamai-o… Ele chama-te. E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus… Que queres que eu te faça? Mestre que eu veja! vai, a tua fé te salvou! E ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho. Jesus passa pelas pessoas e pára junto delas, dá-lhes atenção! Não passa à frente, com indiferença! E neste episódio Ele fica ao nível do cego, que estava à beira do caminho que seguia para Jerusalém. O gesto de acolhimento de Jesus e o convite para que o cego venha até Ele, provoca uma reação de total drespendimento e de liberdade ao ponto de deixar para trás a capa ou o “manto” que tinha para se envolver e depositar as moedas que lhe davam. Nada disso mais interessa. O que importa é aproximar-se de Jesus e fá-lo de modo radical, “tudo o que carrega” fica esquecido, não faz falta.
Jesus permite e quer que o cego diga o que quer, tal como “quer que nos digamos a nós”, “o que nos vai na alma e no coração”.
Os bons lugares
Aqui D. António estabelece um paralelismo e compara a “atitude radical”, decidida, corajosa, confiada, desprendida, do cego Bartimeu, no seguimento de Jesus, associando-lhe idêntica atitude de algumas pessoas que surgem no mesmo Evangelho de Marcos: a oferta da viúva pobre que deu tudo o que possuía, “deu a sua vida toda”, Mc 12, 41-44; e a mulher que vai ter com Jesus e derrama em sua cabeça todo o seu caro perfume que tinha, o frasco ficou partido, nada sobrou ou pode aproveitar-se, mas foi todo derramado na cabeça de Jesus Mc 14, 3-9; numa atitude bem diferente e contrastante estão outras personagens, algumas delas muito relevantes quanto à proximidade a Jesus, como é o caso dos Filhos de Zebedeu (Tiago e João), que querem um lugar bom, importante, “de quem está sentado”; a ambição dos melhores lugares, dos lugares principais. “Os outros dez começaram a indignar-se”… por inveja, porque também eles querem o mesmo, os lugares importantes! O mesmo pensava e ambicionava Pedro, esperando recompensa por terem deixado tudo para O seguir, mas com interesses, com cálculos… Bem diferente é a atitude do cego!
Neste grupo de “calculistas”, dos que não arriscam tudo para seguir Jesus, encontramos o “homem rico” que, não obstante cumprir os mandamentos, tem o seu coração preso ao dinheiro e às riquezas… (tal como os negociantes do Templo) e preferiu não seguir Jesus pelo caminho! Podemos ainda incluir neste “clube de meias medidas” a figueira que só tinha folhas, que não dá fruto, pois não era tempo de figos. Jesus secou-a completamente para nos dizer que “a nossa fé não pode ser de épocas ou de estações”, e que a nossa vida deve ser, toda ela, tempo de fé com frutos.
Com o coração aberto
Hoje somos nós convidados a trilhar com ousadia o caminho de Jesus, sem medo. Para seguir verdadeiramente Jesus não há outra ou outras atitudes que não seja esta a do CEGO DE JERICÓ, da MULHER QUE UNGIU JESUS em Betânia e da VIÚVA POBRE. Todos os outros personagens permanecem à beira do caminho parados e fixados apenas na busca desmedida da satisfação das suas “paixões, ambições e instintos” que não deixam ser homens novos e livres; não sejamos cegos pelo ciúme e pela inveja, sacrificando todo bem que poderíamos ter e dar à ambição do dinheiro e ao poder, ao prestígio, aos “bons lugares”. Também nós podemos cair neste erro e tentação… esforcemo-nos por “atirar fora tudo o que pesa”, aquilo que não nos deixa avançar pelo caminho com Jesus, de forma “corajosa”, “destemida”, “decidida”, “descarada” e “desavergonhada”… não aconteça que, embora vendo, sejamos nós os cegos, que não vêem os outros “com o coração aberto”, livre, generoso e disponível para ouvir o desafio e convite de Jesus que me diz mim e que te diz a ti: VAI! IDE!
Pe. Vasco Pedrinho, in Voz de Lamego, n.º 4304, ano 85/17, de 10 de março de 2015