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IDENTIDADE (DE)FORMADA | Editorial Voz de Lamego | 13 de janeiro de 2015
Nova edição do Jornal Diocesano, Voz de Lamego, refletindo a vida, os acontecimentos do tempo atual, o mundo envolvente, na sociedade e na Igreja, o que se passa à nossa volta, na Diocese e na região. Esta semana, como expectável, os acontecimentos de Paris estão em evidência desde a primeira página.
O Editorial faz eco dos acontecimentos e das preocupações que nos devem fazer refletir: a identidade que se dilui em busca de um sentido que se perdeu e a fixação em fundamentalismo que (aparentemente) oferecem uma referência, uma causa, uma motivação para “gastar” a vida. Vamos então à reflexão que nos propõe o Diretor da Voz de Lamrgo, Pe. Joaquim Dionísio:
IDENTIDADE (DE)FORMADA
Ao contemplarmos a sociedade ocidental em que nos inserimos são visíveis as dificuldades evidenciadas por alguns dos seus membros em assumirem compromissos duradouros ou para afirmarem e cultivarem uma pertença.
Ao mesmo tempo, vislumbramos também um estado generalizado de ansiedade que dificulta a serenidade e a paz necessárias à felicidade.
Apesar do desenvolvimento que se observa e da melhoria das condições de vida que se constatam, as relações humanas são marcadas pela fragilidade, os compromissos pela precariedade e as instituições enfraquecem com a deserção ou falta de interesse de muitos.
Por outro lado, é neste ambiente marcado por uma “falta de sentido” para a vida em que tantos nascem e crescem que, certas ideias, contrárias aos direitos humanos fundamentais, proliferam e alguns grupos recrutam voluntários. Assim se compreende a presença de milhares de jovens ocidentais, a quem aparentemente nada falta, junto de extremistas que apenas se destacam pela crueldade das mortes que executam e pelo fundamentalismo que protagonizam, perseguindo e matando quem crê, pensa e vive de forma diferente.
O que está em causa poderá ser uma fraca ou inexistente identidade destes jovens ocidentais. Perdidos entre opções, insatisfeitos nas escolhas e ansiosos por protagonizarem algo de diferente, tornam-se alvos fáceis para o tal recrutamento, a que se segue uma condenável (de)formação desviante e fundamentalista que leva a actos indignos, tal como os que aconteceram em França por estes dias.
Diante disto, importa contribuir para um crescimento sadio e realizador, através de uma formação assente em valores e princípios que defendam a vida. Uma formação integral e integradora, aberta e acessível, que passa pela acção de instituições e serviços, mas que se concretiza, de forma particular, pela missão educadora assumida pela família, onde as identidades se afirmam e promovem.
in VOZ DE LAMEGO, n.º 4296, ano 85/09, de 13 de janeiro de 2015