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Archive for 18/08/2014

Homilia de D. António Couto nas Bodas de Prata Sacerdotais do Pe. José Augusto Marques

D.António_Couto_em_Resende

MULHER DA GRANDE FÉ!

1. Celebramos hoje, como sempre, o único Senhor da nossa vida, Jesus Cristo, que por nós morreu e está vivo e atuante no meio de nós. É neste intenso feixe de Luz, que nos atravessa, que vivemos e que ousamos também alumiar e celebrar os nossos dias dados. Se fossem apenas nossos, e não dados, não fazia qualquer sentido celebrá-los. É neste cruzamento de Luz e de sentido novo que nos atrevemos também a depor no Altar e a celebrar os 25 anos de vida sacerdotal do nosso irmão, P. José Augusto.

2. O Evangelho deste Domingo XX do Tempo Comum serve-nos uma página absolutamente desarmante, retirada de Mateus 15,21-28. Jesus abandona Genesaré, na costa ocidental do Mar da Galileia, e vai para a região de Tiro e de Sídon, atual Líbano, terra pagã.

3. Uma mulher e mãe «libanesa», carregada com o drama da sua filha doente, situação verdadeira ontem como hoje, e que hoje bem podemos estender à Palestina, à Síria e ao Iraque, vem implorar de Jesus, num grito que lhe sai do fundo das entranhas, que lhe «faça graça» (eléêsón me, kýrie) (Mateus 15,22), isto é, que olhe para ela com bondade e ternura como uma mãe que dirige o seu olhar embevecido para o bebé que embala nos braços.

4. O texto diz que Jesus nem lhe respondeu (Mateus 15,23a). A mulher não desiste, mas insiste, e continua a gritar, de tal modo que agora são os discípulos que pedem a Jesus que a despache, «porque ela vem a gritar atrás de nós» (Mateus 15,23b). Equívoco deles e nosso. A mulher e mãe «libanesa» não grita atrás de nós, para nós; grita atrás de Jesus, para Jesus! E leva a sua insistência mais longe, prostrando-se (verbo proskinéô) agora diante de Jesus (Mateus 15,25). O gesto significa orientar a sua vida toda para Jesus, pôr-se totalmente na dependência de Jesus. A reação de Jesus é de uma dureza extrema: afasta a pobre mulher e mãe duramente, dizendo-lhe: «Não está bem (kalón) que se tome o pão dos filhos, para o lançar aos cachorrinhos» (Mateus 15,26), catalogando assim aquela pobre mulher e mãe «libanesa» na classe dos cachorros [= pagãos] e não dos filhos [= judeus]. Só para estes é que ele veio. Ler mais…